BIA-ALCL: linfoma associado à prótese mamária.
Em 1962, a americana Timmie Jean Lindsey foi submetida à primeira cirurgia de inclusão de prótese mamária, para aumento dos seios, no Texas (USA). A cirurgia foi um sucesso! E a partir daí, pesquisas e experimentos acerca deste tipo de dispositivo, que já existiam, se tornaram ainda mais frequentes. As cirurgias de aumento das mamas ganharam mundo e se popularizaram. Caíram no gosto das mulheres e é uma das cirurgias mais realizadas no planeta.
As próteses evoluíram bastante, passando por mudanças no material do envoltório, no gel do preenchimento, no formato, na projeção e na durabilidade. Assim, o mercado transitou por próteses de silicone lisas e texturizadas, com tipos diferentes de texturização, e próteses de poliuretano. O conteúdo variou de gel de silicone, com mais ou menos coesividade, à solução salina. As técnicas de colocação, planos anatômicos utilizados e vias de acesso também variaram bastante. Tudo isso no esforço de causar o menor índice de complicações e efeitos adversos ao paciente. O objetivo sempre foi e ainda é, a segurança e bem estar do paciente.
Ao longo dos anos, a prótese mamária foi colocada sob suspeita em vários momentos. O fato é que até o momento, está descartada sua associação com o câncer de mama. A associação com algumas doenças auto imunes não está descartada, mas sinaliza no sentido de que o corpo estranho que é o implante, pode agravar um quadro existente mas não causá-lo. Tudo ainda no âmbito da especulação e estudo científico. O que é certo, é que além de riscos normais de qualquer cirurgia, a prótese apresenta um risco de contratura e ruptura. Assim, todo esforço nas pesquisas se deu no sentido de desenvolver próteses que que causassem menos contratura e ruptura.
Em 2016, a Organização Mundial de Saúde (OMS) incluiu o linfoma de células anaplásicas (ALCL) associado a implantes de silicone (BIA-ALCL) como um novo linfoma reconhecido,pertencente à família ALCL, já existente.
É uma patologia hematológica e não das mamas. É um tipo de linfoma incomum, de incidência baixa, tendo sido diagnosticados até junho de 2018 um total de 561 casos no mundo. Apresenta um ótimo prognóstico após tratamento, que na maioria das vezes é somente cirúrgico.
O BIA_ALCL (Breastimplantassociated ALCL) é um linfoma, ou seja, um câncer do sistema linfático e que tem, como o próprio nome diz, associação com implantes de silicone. Tem uma incidência baixa, variando de acordo com o tipo de implante. Aparece geralmente após 9 anos de colocação da prótese. Em 2019 uma marca de prótese que usava uma macrotextura, BIOCELL, do laboratório americanoAllergan, após comprovada uma maior incidência de ALCL com esta tecnologia, decidiu retirar seus implantes do mercado mundial, alarmando o mercado como um todo, ao usar o termo RECALL.
A orientação atual do laboratório Allergan, assim como da ANVISA, FDA e Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP) é que se continue a propedêutica normal das mamas, com avaliação das próteses periodicamente e caso surjam anormalidades. Todo caso suspeito deve ser adequadamente pesquisado pelo médico assistente e devidamente tratado, caso se comprove o ALCL. O diagnóstico precoce leva à cura na quase totalidade dos casos.
Não se indica, até o momento, a retirada dos implantes, mesmo que sejam da referida marca que apresenta uma maior incidência.
Cabe a nós, cirurgiões plásticos e a todas as entidades médicas, esclarecer aos pacientes sobre os riscos e sobre como se proteger adequadamente.
Ainda tem dúvidas sobre BIA-ALCL em prótese mamária? Procure seu médico para total esclarecimento e orientação.
Xênia Portella
Médica Cirurgiã Plástica
CRM- MG 21682